quinta-feira, 12 de junho de 2014

O LEITOR DA VIDA

 
Ao inaugurar mais este canal de contato com os fãs, leitores e publico em geral, me vi frente a frente com um dilema: sobre o que escrever? Não me pareceu muito bom cair na mesmice e falar dos objetivos do Blog e suas outras características, pois acredito que isso é algo explicito para quem aqui vem. Isto posto, a tarefa se concentrou no “o que escrever?”

Depois de muito pensar e relembrar todas as experiências vividas por mim desde que tive o primeiro contato com a literatura, deparei-me com algo de grande importância, que mereceria ocupar o espaço inaugural de meu novo Blog, o LEITOR. Então acabei por optar em relatar neste texto, que tem como objetivo apenas iniciar uma reflexão, sobre quem é esse maravilhoso personagem. Colocadas os princípios que nortearam minha decisão por tal tema, vamos direto ao cerne da questão.

Muitos dirão que o leitor nasce quando adquire a compreensão da língua e passa a conseguir decifrar a sonoridade e significado das palavras, fazendo correlações entre elas com suas experiências e conhecimentos, ou seja, quando começa a ser alfabetizado. Confesso que durante minha adolescência, de por muitos anos depois, também pensei assim, até compreender que a literatura vai muito mais além do que a chamada “escrita”.

Conforme fui me aprofundando no mundo literário, participando e ministrando palestras, autografando, conversando com fãs, com o público, com outros autores, com editores, livreiros, e tantas outras pessoas, as quais me agregaram conhecimentos impares, cheguei à conclusão de que o leitor nasce muito antes do alfabetizar. Há casos em que o leitor nasce antes até do nascer do corpo físico.

Antes do nascer físico? Como assim?, pode perguntar um dos que agora leem estas poucas linhas reflexivas. E a resposta que tenho a dar é simples.

Durante a gestação é comum os pais “conversarem” com seu filho por nascer, o que muitas vezes provoca algum tipo de reação do feto. Segundos estudos psicanalíticos realizados com gestantes, observou-se que, sob intensa angústia, alegria, sofrimento, felicidade, ou qualquer outro tipo de emoção vivida pela mãe, o feto “lê” e “interpreta”, gerando determinada reação, ou seja, se comunicando através de sua “linguagem limitada”. Não podemos negar que, num sentido mais amplo do termo “leitor”, o feto nada mais desta fazendo do que “ler” a mensagem passada pela mãe ou fatos externos.

Mas nesse caso o feto está apenas reagindo a um estímulo, pode um de vocês argumentar. Isso nos leva a refletir sobre o que é um estímulo. Segundo o dicionário, estímulo é aquilo que estimula. Incentivo, impulso, qualquer coisa que excita a exercer certa atividade, física ou mental.

Numa relação livro/leitor, entendo que o estímulo é o conteúdo do livro, que incentiva ao leitor de forma mental, fazendo-o se utilizar de sua imaginação, despertando-lhe sentimentos diversos, tais como medo, tristeza, alegria, saudade ou raiva. O livro físico é o meio pelo qual transita tal estímulo, é o condutor, que na analogia com a relação mãe/feto, é a gravida que carreta o filho em seu ventre. O Leitor é o receptor da informação trazida pelo livro, ou seja, o estímulo, que certamente reagirá de forma diversa, respondendo a esse estímulo. Aqui o leitor equipara-se ao feto. Então, no racional acima, podemos dizer que o feto é sim um leitor.

Mas sigamos em frente. Nos primeiros meses de vida, o agora bebê passa a “ler” tudo que o cerca, e tal qual a fase de feto, reage de formas variáveis, buscando estabelecer contato. Aqui também ele é um leitor. Isso se estenderá por toda a sua vida, se intensificando durante a sua fase de alfabetização.

É na fase de alfabetização que desenvolvemos nosso papel de leitor na concepção mais usualmente utilizada: aquele que lê livros, textos ou outras formas de escrita. Mas lembre-se, o termo “leitor” tem um significado e uma abrangência muito mais ampla do que esta, como já expus acima.

Tal qual existem autores de livros que são analfabetos, também existem leitores que não são alfabetizados, são cegos ou não possuem qualquer um dos outros sentidos. Ler é sentir. Ler é interagir, ler é comunicar, ler é trocar experiências e conhecimentos. Ler é vida, logo, ser leitor é estar vivo.

Então, viva com alegria, com intensidade. Leia o sorriso de seu amigo, o gesto de amizade, o amor de sua mãe, o afeto de seu irmão e nos momentos quem que dispuser leia livros, pois eles lhe ajudarão a intensificar todas as suas demais leituras, transformando-o num LEITOR DA VIDA.

Junho de 2014.

J. Modesto

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário