Ao inaugurar mais este canal de contato com
os fãs, leitores e publico em geral, me vi frente a frente com um dilema: sobre
o que escrever? Não me pareceu muito bom cair na mesmice e falar dos objetivos
do Blog e suas outras características, pois acredito que isso é algo explicito
para quem aqui vem. Isto posto, a tarefa se concentrou no “o que escrever?”
Depois de muito pensar e relembrar todas as
experiências vividas por mim desde que tive o primeiro contato com a literatura,
deparei-me com algo de grande importância, que mereceria ocupar o espaço
inaugural de meu novo Blog, o LEITOR. Então acabei por optar em relatar neste
texto, que tem como objetivo apenas iniciar uma reflexão, sobre quem é esse
maravilhoso personagem. Colocadas os princípios que nortearam minha decisão por
tal tema, vamos direto ao cerne da questão.
Muitos dirão que o leitor nasce quando
adquire a compreensão da língua e passa a conseguir decifrar a sonoridade e
significado das palavras, fazendo correlações entre elas com suas experiências
e conhecimentos, ou seja, quando começa a ser alfabetizado. Confesso que
durante minha adolescência, de por muitos anos depois, também pensei assim, até
compreender que a literatura vai muito mais além do que a chamada “escrita”.
Conforme fui me aprofundando no mundo
literário, participando e ministrando palestras, autografando, conversando com
fãs, com o público, com outros autores, com editores, livreiros, e tantas
outras pessoas, as quais me agregaram conhecimentos impares, cheguei à
conclusão de que o leitor nasce muito antes do alfabetizar. Há casos em que o
leitor nasce antes até do nascer do corpo físico.
Antes do nascer físico? Como assim?, pode
perguntar um dos que agora leem estas poucas linhas reflexivas. E a resposta
que tenho a dar é simples.
Durante a gestação é comum os pais
“conversarem” com seu filho por nascer, o que muitas vezes provoca algum tipo
de reação do feto. Segundos estudos psicanalíticos realizados com gestantes,
observou-se que, sob intensa angústia, alegria, sofrimento, felicidade, ou
qualquer outro tipo de emoção vivida pela mãe, o feto “lê” e “interpreta”,
gerando determinada reação, ou seja, se comunicando através de sua “linguagem
limitada”. Não podemos negar que, num sentido mais amplo do termo “leitor”, o
feto nada mais desta fazendo do que “ler” a mensagem passada pela mãe ou fatos
externos.
Mas nesse caso o feto está apenas reagindo a
um estímulo, pode um de vocês argumentar. Isso nos leva a refletir sobre o que
é um estímulo. Segundo o dicionário, estímulo é aquilo que estimula. Incentivo,
impulso, qualquer coisa que excita a exercer certa atividade, física ou mental.
Numa relação livro/leitor, entendo que o
estímulo é o conteúdo do livro, que incentiva ao leitor de forma mental, fazendo-o
se utilizar de sua imaginação, despertando-lhe sentimentos diversos, tais como
medo, tristeza, alegria, saudade ou raiva. O livro físico é o meio pelo qual
transita tal estímulo, é o condutor, que na analogia com a relação mãe/feto, é
a gravida que carreta o filho em seu ventre. O Leitor é o receptor da
informação trazida pelo livro, ou seja, o estímulo, que certamente reagirá de
forma diversa, respondendo a esse estímulo. Aqui o leitor equipara-se ao feto.
Então, no racional acima, podemos dizer que o feto é sim um leitor.
Mas sigamos em frente. Nos primeiros meses de
vida, o agora bebê passa a “ler” tudo que o cerca, e tal qual a fase de feto,
reage de formas variáveis, buscando estabelecer contato. Aqui também ele é um
leitor. Isso se estenderá por toda a sua vida, se intensificando durante a sua fase
de alfabetização.
É na fase de alfabetização que desenvolvemos
nosso papel de leitor na concepção mais usualmente utilizada: aquele que lê
livros, textos ou outras formas de escrita. Mas lembre-se, o termo “leitor” tem
um significado e uma abrangência muito mais ampla do que esta, como já expus
acima.
Tal qual existem autores de livros que são
analfabetos, também existem leitores que não são alfabetizados, são cegos ou
não possuem qualquer um dos outros sentidos. Ler é sentir. Ler é interagir, ler
é comunicar, ler é trocar experiências e conhecimentos. Ler é vida, logo, ser
leitor é estar vivo.
Então, viva com alegria, com intensidade.
Leia o sorriso de seu amigo, o gesto de amizade, o amor de sua mãe, o afeto de
seu irmão e nos momentos quem que dispuser leia livros, pois eles lhe ajudarão
a intensificar todas as suas demais leituras, transformando-o num LEITOR DA
VIDA.
Junho de 2014.
J. Modesto